Pesquisa com ritmos africanos
Explorando a habilidade dos pequenos para tocar instrumentos e dançar,
leve-os a descobrir como as manifestações artísticas expressam a cultura.
Ana Rita Martins (novaescola@fvc.org.br)
GINGA AFRICANA
Dançando o coco, a turma da CEI Santa Escolástica vivencia os
sons afro-brasileiros. Fotos: Marcelo Min
Dançar, batucar e cantar são formas de manifestação que fascinam desde
que o homem é homem. Ao longo de pelo menos 130 mil anos da trajetória humana
no planeta, combinações de gestos, ritmos e sons foram capazes de exprimir, a
um só tempo, costumes, tradições e visões de mundo de incontáveis povos e
grupos sociais. Em poucas palavras, tanto a música como a dança transmitem
cultura. É papel do professor mostrar essa ligação - sem deixar de lado, claro,
o aspecto lúdico que só não encanta "quem é ruim da cabeça ou doente do
pé", como diz o histórico Samba de Minha Terra, de Dorival
Caymmi.
As crianças, você sabe, encontram na brincadeira uma poderosa ferramenta
de experimentação e conhecimento. Em geral, adoram música e dança. Era assim
com os pequenos da pré-escola do CEI Santa Escolástica, na capital paulista.
Atenta a essa empolgação, a professora Luciana do Nascimento Santos fez o
óbvio: pôs a meninada para tocar, cantar e dançar. Mas foi além. Primeiro,
estabeleceu um foco para sua atuação, explorando influências da cultura
africana com o aprendizado de instrumentos como agogô, caxixi e alfaia e de
danças como jongo, maracatu e coco. Em segundo lugar, encarou essas práticas
como meios de pesquisa cultural, conduzindo a turma na descoberta da história
da África e suas ligações com o Brasil.
O resultado desse trabalho rendeu à professora o troféu de Educadora Nota 10 do Prêmio Victor Civita de 2008. "O que me entusiasmou foi o fato de os pequenos terem aprendido muito sobre a África ao fim do projeto", afirma Karina Rizek, coordenadora de projetos da Escola de Educadores, em São Paulo, e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. "Além disso, Luciana colheu os frutos de ter apostado na capacidade artística da meninada. Nunca vi crianças daquela idade dançando e tocando tão bem."
Fonte:
Músicas para o aconchego
A relação das crianças com a voz materna
e a memória sonora delas começam ser a formadas na gestação. Segundo o
psiquiatra francês Serge Lebovici (1915-2000), essas “impressões sonoras”
preparam o vínculo do filho com a mãe para quando o cordão umbilical não os
unir mais. Por isso, de acordo com Ana Paula Stahlschmidt, psicóloga e doutora
em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é
interessante que os pequenos ouçam a voz da mãe desde cedo, inclusive na hora
do acalanto, como também são chamadas as canções de ninar.
No mundo todo, o passar do tempo muda
as gerações e as culturas, mas essas músicas, que embalam o sono dos bebês, têm
lugar cativo no repertório familiar. Elas acalmam, aconchegam e dão segurança
para que os bebês durmam. Curtas e repetitivas, são fáceis de decorar.
“Na creche, as canções de ninar
ajudam a estabelecer outro laço afetivo: o do educador com as crianças, que
passam a se sentir mais tranquilas e acolhidas”, explica Sandra da Cunha,
professora de Música na Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo.
Canções aproximam as famílias da creche
Além do bem-estar das crianças, os acalantos promovem outros ganhos. Ao colocá-los em cena, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, o docente contribui para o desenvolvimento da percepção e atenção da turma, tal como ocorre com a exploração de brincadeiras com palmas, rodas e cirandas.
Além do bem-estar das crianças, os acalantos promovem outros ganhos. Ao colocá-los em cena, de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, o docente contribui para o desenvolvimento da percepção e atenção da turma, tal como ocorre com a exploração de brincadeiras com palmas, rodas e cirandas.
As canções também
estreitam os laços da família com os pequenos e com a instituição. Uma ideia é
pedir para os pais gravarem as músicas preferidas dos filhos para que, além das
canções, a voz deles também chegue à instituição (clique aqui e leia o plano de trabalho sobre
esse tema).
Depois de fazer uma pesquisa com as
crianças e as famílias, Plínio do Carmo, professor de Música da CMEI João Pedro
de Aguiar, em Vitória, criou um banco de cantigas e brincadeiras. Com as
canções, ele faz diariamente momentos de apreciação musical. Assim, a turma se
identifica com o que já é familiar e aprende coisas novas, ampliando o
repertório. Todos participam de alguma maneira: batendo palmas, dançando… E
quem já fala se arrisca a cantar. “Percebo evoluções no desenvolvimento da fala
e dos movimentos corporais e na capacidade de discriminar sons e reconhecer
vozes”, relata o educador.
A importância da utilização da música na educação
infantil
La importancia de la utilización de la música en
la educación infantil
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*Aluno do curso de licenciatura em Educação
Física na União
das Faculdades dos Grandes Lagos (UNILAGO)
**Especialista em Educação Física Escolar
Docente do curso de Educação Física na União
das Faculdades dos Grandes Lagos (UNILAGO)
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Resumo
A
linguagem musical está presente na vida dos seres humanos desde o nascimento,
e a criança tem necessidade de desenvolver o senso de ritmo. O ser humano tem
várias maneiras de responder aos estímulos do meio ambiente, e o movimento é
uma delas. Os bebês apresentam reações e preferências, e estão prontos para
aprender muito mais do que se costumava pensar. É
necessário analisar que tipo de contribuição pode ocorrer com o trabalho de
musicalização para bebês. A música tem sua contribuição para o
desenvolvimento cognitivo e motor despertando a criatividade. No dia a dia
das crianças, ela vem atendendo a diversos propósitos como suporte para a
formação de hábitos, atitudes, disciplina, condicionamento da rotina.
Partindo da hipótese de que a música pode influenciar o desenvolvimento
cognitivo e motor da criança o presente estudo buscou, através de estudo da
literatura existente, demonstrar que a música tem uma contribuição muito
grande para as crianças em desenvolvimento. Assim, o estudo concluiu que
através da música o desenvolvimento da criança pode ser facilitado, trazendo
mais atenção para a aula, e estimulando a criatividade e o movimento do
aluno.
Unitermos: Música. Ritmo. Atenção.
Criatividade. Desenvolvimento.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº
169 - Junio de 2012.
A Música e o
Desenvolvimento da Criança
4 DE JULHO DE 2012 12:51 AM
por: Monique Andries Nogueira
A presença da música na vida dos seres humanos é
incontestável. Ela tem acompanhado a história da humanidade, ao longo dos
tempos, exercendo as mais diferentes funções. Está presente em todas as regiões
do globo, em todas as culturas, em todas as épocas: ou seja, a música é uma
linguagem universal, que ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço.
Entretanto, a forma pela qual a música, como
linguagem, acontece no seio dos diferentes grupos sociais é bastante
diversificada. A música que é vivenciada em uma cerimônia do Quarup, no Parque
do Xingu, por exemplo, tem um caráter bastante diverso da música que colocamos
no CD player do nosso carro; o mantra entoado em um templo budista, por sua
vez, não apresenta a mesma função de um canto de lavadeiras do Rio São
Francisco. Apesar dessas diferentes funções, em todas essas situações e em
muitas outras, a música acompanha os seres humanos em praticamente todos os
momentos de sua trajetória neste planeta. E, particularmente nos tempos atuais,
deve ser vista como uma das mais importantes formas de comunicação: segundo o
pedagogo Snyders (1992), nunca uma geração viveu tão intensamente a música como
as atuais.
É exatamente para falarmos de uma das facetas dessa
intensa relação que trata o texto. Será abordada, particularmente, a relação
que se dá entre a música, entendida como prática e vivência, e o
desenvolvimento da criança.
Inicialmente é preciso esclarecer nosso conceito de
desenvolvimento. Desenvolvimento, segundo o dicionário Houaiss, é um termo que
apresenta muitas acepções. Escolhemos algumas delas: “aumento de qualidades
morais, psicológicas, intelectuais etc”, “crescimento, progresso, adiantamento”
(HOUAISS, 2002, p. 989). No entanto, há uma tendência, em nossa civilização, de
se concentrar a idéia de desenvolvimento da criança nos aspectos cognitivos,
isto é, no que diz respeito ao aprendizado intelectual. É uma tendência natural
em uma civilização tão competitiva e tecnicista. Em função disso, muito se tem
falado a respeito do papel da música na melhoria do rendimento acadêmico de
estudantes.
Nossa opção, contudo, vai pela contramão desta
tendência. Entendemos que o processo de crescimento de uma criança está muito
além apenas de seus aspectos físicos ou intelectuais; esse processo envolve
outras questões, certamente tão complexas quanto às da maturação biológica.
Dessa forma, optamos por trabalhar a ideia de desenvolvimento infantil a partir
de uma abordagem mais ampla, abarcando também seus aspectos de amadurecimento
afetivo e social, sem deixar de lado, obviamente, o aspecto cognitivo.
É importante fazer uma ressalva que toda criança
está imersa em um caldo cultural, que é formado não só pela sua família, mas
também por todo o grupo social no qual ela cresce. Nesse sentido, a forma como
a música influencia o desenvolvimento de uma criança carajá, por exemplo, é
muito diferente da forma como isso se dá com uma criança branca; da mesma
forma, uma criança de classe média alta, que freqüenta ambientes nos quais a
música é praticada de forma intensa, apresenta características bem diversas de
uma criança que se vê vítima da exploração do trabalho infantil.
Obviamente nosso foco não será o de uma criança
especial, de algum grupo social específico. Nossas observações levarão em
consideração as pesquisas feitas na área que, na sua grande maioria tiverem
como sujeitos crianças ocidentais, escolarizadas, de inteligência dita normal.
Ainda que não concordemos com a idéia de um modelo de criança universal,
entendemos que estas pesquisas, guardadas as devidas proporções, podem nos
elucidar em muitos aspectos.
Nesse sentido, entendemos que as reflexões a serem
apresentadas neste artigo, a partir de um referencial específico, podem nos
auxiliar a compreendermos melhor a relação criança-música-desenvolvimento,
ressaltando que as particularidades de cada grupo social merecem ser
investigadas com afinco, em outros momentos, por outros autores.
A música e o desenvolvimento cognitivo da criança
Inúmeras pesquisas, desenvolvidas em diferentes
países e em diferentes épocas, particularmente nas décadas finais do século XX,
confirmam que a influência da música no desenvolvimento da criança é
incontestável. Algumas delas demonstraram que o bebê, ainda no útero materno,
desenvolve reações a estímulos sonoros.
Schlaug, da Escola de Medicina de Harvard (EUA), e
Gaser, da Universidade de Jena (Alemanha), revelaram que, ao comparar cérebros
de músicos e não músicos, os do primeiro grupo apresentavam maior quantidade de
massa cinzenta, particularmente nas regiões responsáveis pela audição, visão e
controle motor (apud SHARON, 2000). Segundo esses autores, tocar um instrumento
exige muito da audição e da motricidade fina das pessoas. O que estes autores
perceberam, e vem ao encontro de muitos outros estudos e experimentos, é que a
prática musical faz com que o cérebro funcione “em rede”: o indivíduo, ao ler
determinado sinal na partitura, necessita passar essa informação (visual) ao
cérebro; este, por sua vez, transmitirá à mão o movimento necessário (tato); ao
final disso, o ouvido acusará se o movimento feito foi o correto (audição).
Além disso, os instrumentistas apresentam muito mais coordenação na mão não
dominante do que pessoas comuns. Segundo Gaser, o efeito do treinamento musical
no cérebro é semelhante ao da prática de um esporte nos músculos. Será por isso
que Platão já afirmava, há tantos séculos, que a música é a ginástica da alma?
Outros estudos apontam também que, mesmo se o
contato com a música for feito por apreciação, isto é, não tocando um
instrumento, mas simplesmente ouvindo com atenção e propriedade (percebendo as
nuances, entendendo a forma da composição), os estímulos cerebrais também são
bastante intensos.
Ao mesmo tempo que a música possibilita essa
diversidade de estímulos, ela, por seu caráter relaxante, pode estimular a
absorção de informações, isto é, a aprendizagem. Losavov, cientista búlgaro,
desenvolveu uma pesquisa na qual observou grupos de crianças em situação de aprendizagem,
e a um deles foi oferecida música clássica, em andamento lento, enquanto
estavam tendo aulas. O resultado foi uma grande diferença, favorável ao grupo
que ouviu música. A explicação do pesquisador é que ouvindo música clássica,
lenta, a pessoa passa do nível alfa (alerta) para o
nível beta (relaxados, mas atentos); baixando a ciclagem
cerebral, aumentam as atividades dos neurônios e as sinapses tornam-se mais
rápidas, facilitando a concentração e a aprendizagem (apud OSTRANDER e
SCHOEDER, 1978).
Outra linha de estudos aponta a proximidade entre a
música e o raciocínio lógico-matemático. Segundo Schaw, Irvine e Rauscher (apud
CAVALCANTE, 2004) pesquisadores da Universidade de Wisconsin, alunos que
receberam aulas de música apresentavam resultados de 15 a 41% superiores em
testes de proporções e frações do que os de outras crianças. Em outra
investigação, Schaw verificou que alunos de 2a. série que faziam
aulas de piano duas vezes por semana, apresentaram desempenho superior em
matemática aos alunos de 4 ª série que não estudavam música.
Enfim, o que se pode concluir a esse respeito é que
efetivamente a prática de música, seja pelo aprendizado de um instrumento, seja
pela apreciação ativa, potencializa a aprendizagem cognitiva, particularmente no
campo do raciocínio lógico, da memória, do espaço e do raciocínio abstrato.
A música e o desenvolvimento afetivo
Um outro campo de desenvolvimento é o que lida com
a afetividade humana. Muitas vezes menosprezado por nossa sociedade tecnicista,
é nele que os efeitos da prática musical se mostram mais claros, independendo
de pesquisas e experimentos. Todos nós que lidamos com crianças percebemos
isso. O que tem mudado é que agora estes efeitos têm sido estudados
cientificamente também.
Em pesquisa realizada na Universidade de Toronto,
Sandra Trehub (apud CAVALCANTE, 2004) comprovou algo que muitos pais e
educadores já imaginavam: os bebês tendem a permanecer mais calmos quando
expostos a uma melodia serena e, dependendo da aceleração do andamento da música,
ficam mais alertas.
Nossas avós também já sabiam que colocar um bebê do
lado esquerdo, junto ao peito, o deixa mais calmo. A explicação científica é
que nessa posição ele sente as batidas do coração de quem o está segurando, o
que remete ao que ele ouvia ainda no útero, isto é, o coração da mãe. Além
disso, a eficácia das canções de ninar é prova de que música e afeto se unem em
uma mágica alquimia para a criança. Muitas vezes, mesmo já adultos, nossas
melhores lembranças de situação de acolhimento e carinho dizem respeito às
nossas memórias musicais. Já presenciamos vivências em grupos de professores
que, a princípio, não apresentavam memórias de sua primeira infância. Ao
ouvirem certos acalantos, contudo, emocionaram-se e passaram a relatar
situações acontecidas há muito tempo, depois confirmadas por suas mães.
Por todas essas razões, a linguagem musical tem
sido apontada como uma das áreas de conhecimentos mais importantes a serem
trabalhadas na Educação Infantil, ao lado da linguagem oral e escrita, do movimento,
das artes visuais, da matemática e das ciências humanas e naturais. Em países
com mais tradição que o Brasil no campo da educação da criança pequena, a
música recebe destaque nos currículos, como é o caso do Japão e dos países
nórdicos. Nesses países, o educador tem, na sua graduação profissional, um
espaço considerável dedicado à sua formação musical, inclusive com a prática de
um instrumento, além do aprendizado de um grande número de canções. Este é, por
sinal, um grande entrave para nós: o espaço destinado à música em grande parte
dos currículos de formação de professores é ainda incipiente, quando existe. É
preciso investir significativamente na formação estética (e musical,
particularmente) de nossos professores, se realmente quisermos obter melhores
resultados na educação básica.
Ainda abordando os efeitos da música no campo
afetivo, estudos recentes ampliam ainda mais nosso conhecimento a respeito.
Zatorre, da Universidade de McGill (Canadá) e Blood, do Massachusetts General
Hospital (EUA), desenvolveram uma pesquisa que buscou analisar os efeitos no
cérebro de pessoas que ouviam músicas, as quais segundo as mesmas lhes causavam
profunda emoção. Verificou-se que ao ouvir estas músicas, as pessoas acionaram
exatamente as mesmas partes do cérebro que têm relação com estados de euforia.
Segundo esses autores, isso confere à música uma grande relevância biológica,
relacionando-a aos circuitos cerebrais ligados ao prazer (2001).
Há também inúmeras experiências na área de saúde,
trabalhos em hospitais que utilizam a música como elemento fundamental para o
controle da ansiedade dos pacientes. A origem deste trabalho remonta à 2a.
Guerra Mundial, quando músicos foram contratados para auxiliar na recuperação
de veteranos de guerra por hospitais norte-americanos. Pode-se afirmar que esse
foi um grande impulso para a área de musicoterapia, hoje com reconhecimento
acadêmico consolidado. É cada vez mais comum a presença da música nestes locais,
seja para diminuir a sensação de dor em pacientes depois de uma cirurgia, junto
a mulheres em trabalho de parto (para estimular as contrações) ou na
estimulação de pacientes com dano cerebral. Nesse sentido, não é exagero
afirmar que os efeitos da música sobre os sentimentos humanos estão, cada vez
mais, migrando da sabedoria popular para o reconhecimento científico.
A música e o desenvolvimento social da criança
A música também traz efeitos muito significativos
no campo da maturação social da criança. É por meio do repertório musical que
nos iniciamos como membros de determinado grupo social. Por exemplo: os
acalantos ouvidos por um bebê no Brasil não são os mesmos ouvidos por um bebê
nascido na Islândia; da mesma forma, as brincadeiras, as adivinhas, as canções,
as parlendas que dizem respeito à nossa realidade nos inserem na nossa cultura.
Além disso, a música também é importante do ponto
de vista da maturação individual, isto é, do aprendizado das regras sociais por
parte da criança. Quando uma criança brinca de roda, por exemplo, ela tem a
oportunidade de vivenciar, de forma lúdica, situações de perda, de escolha, de
decepção, de dúvida, de afirmação. Fanny Abramovich, em memorável artigo,
afirma:
Ò ciranda-cirandinha, vamos todos cirandar, uma volta, meia volta, volta
e meia vamos dar, quem não se lembra de quando era pequenino, de ter dados as
mãos pra muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter brincado,
cantado e dançado por horas? Quem pode esquecer a hora do recreio na escola, do
chamado da turma da rua ou do prédio, pra cantarolar a Teresinha de Jesus,
aquela que de uma queda foi ao chão e que acudiram três cavalheiros, todos eles
com chapéu na mão? E a briga pra saber quem seria o pai, o irmão e o terceiro,
aquele pra quem a disputada e amada Teresinha daria, afinal, a sua mão? E
aquela emoção gostosa, aquele arrepio que dava em todos, quando no centro da
roda, a menina cantava: “sozinha eu não fico, nem hei de ficar, porque quero o
…(Sérgio? Paulo? Fernando? Alfredo?) para ser meu par”. E aí, apontando o
eleito, ele vinha ao meio pra dançar junto com aquela que o havia escolhido…
Quanta declaração de amor, quanto ciuminho, quanta inveja, passava na cabeça de
todos. (1985, p. 59).
Essas cantigas e muitas outras que nos foram transmitidas
oralmente, através de inúmeras gerações, são formas inteligentes que a
sabedoria humana inventou para nos prepararmos para a vida adulta. Tratam de
temas tão complexos e belos, falam de amor, de disputa, de trabalho, de
tristezas e de tudo que a criança enfrentará no futuro, queiram seus pais ou
não. São experiências de vida que nem o mais sofisticado brinquedo eletrônico
pode proporcionar.
Mais tarde, já às voltas com as dores e as delícias
do adolescer, ainda uma vez a música tem papel de destaque. Sem sombra de
dúvida, a música é uma das formas de comunicação mais presente na vida dos
jovens. Inúmeras vezes, é por meio da canção que temáticas importantes na
inserção social desse jovem, não mais como criança, mas agora como preparação
para a vida adulta, lhe são apresentadas. Como exemplo, temos os videoclipes
que apresentam a jovens de classe média a dura realidade do racismo, da vida
nas periferias urbanas e que podem ser utilizados por pais e educadores como
forma de estabelecer um diálogo, uma porta para a construção da consciência
cívica.
Como os pais podem contribuir para o
desenvolvimento da criança
À guisa de conclusão, faremos agora uma breve
reflexão sobre como podem os pais e adultos que se incumbem da educação de
crianças agir em relação à sua formação musical. Comecemos, portanto, do útero.
Como já foi dito, fetos reagem a estímulos sonoros externos e, portanto, deve
ser benéfico que a mãe possa, ela mesma, desenvolver atividades musicais. Se
você teve a oportunidade de aprender um instrumento musical, pratique-o muito
durante a gravidez. Caso não seja esse o seu caso, cante bastante, pois esse
instrumento – a voz – está bem aí ao seu alcance: utilize-o, entre para um
coral, aprenda cantigas de ninar, cante no banheiro!
Além de cantar, ouça também boa música. Aproveite
esse período para ficar a par de boas produções musicais para criança. Muitos
pais reclamam, com razão, do lixo musical que infesta os grandes meios de
comunicação. Contudo, há um razoável número de CDs de boa qualidade, voltado
para o público infantil, como por exemplo, toda a obra de Bia Bedran, a Coleção
Palavra Cantada, entre outros. Vale a pena buscar aqueles discos de vinil que
fizeram sua alegria quando pequena (Saltimbancos, Arca de Noé, Coleção
Disquinho), pois a maior parte deles já se encontra remasterizada para CD. Se
você se dispuser a formar um pequeno acervo, não se preocupe com o lixo que seu
filho ouvirá lá fora: oferecendo outras alternativas, dentro de casa,
certamente ele terá meios para uma escolha mais crítica.
Mais tarde, depois do nascimento, faça dos momentos
junto ao bebê momentos de puro prazer: cante enquanto lhe dá banho, faça
brincadeiras ritmadas na troca de fralda, toque seu corpo ao ritmo da canção.
E, principalmente, não abra mão das cantigas de ninar. Esqueça a conversa de
que isso “põe a criança mimada”: atualmente, pediatras são unânimes em
estimular esse contato. Lembre-se: criança quieta, que dorme sozinha, que não
reclama companhia, nem sempre é sinônimo de criança feliz. Muitas vezes, o bebê
super independente de agora, poderá vir a ser o adulto carente de amanhã.
Caso você sinta necessidade, procure serviços
especializados na musicalização de bebês. Busque informações sobre os
profissionais envolvidos, assista a algumas aulas, certifique-se do tipo de
trabalho desenvolvido. Mas lembre-se: não busque por aceleração de
aprendizagem, pela formação precoce de virtuoses. Tenha em foco apenas a
possibilidade de momentos prazerosos e estimulantes para seu bebê. Todo o
resto, que poderá vir a acontecer ou não, será lucro.
Mais tarde, por volta dos quatro, cinco anos, é
comum os pais se perguntarem se não estará na hora de aprender um instrumento.
É importante saber que o processo de musicalização deve anteceder o aprendizado
de um instrumento específico. Em geral, as boas escolas de música desenvolvem
um trabalho anterior, de vivência e sensibilização musical, para depois, quando
a criança já se encontra alfabetizada, iniciar as aulas de instrumento e de
leitura musical. Se esse for o seu interesse, vá em frente; caso não o seja,
insista para que na escola de seu filho a música tenha espaço no currículo.
Esse espaço não significa necessariamente uma aula específica de música: no
caso da educação infantil, essa fragmentação do trabalho pedagógico nem é a
mais indicada pelas tendências educativas mais sólidas. Esse espaço pode ser
concretizado mesmo nas atividades de rotina, no repertório utilizado, nas
brincadeiras musicais, na freqüência a eventos promovidos pela escola. Por
outro lado, a presença de um professor especialista, um licenciado em música,
pode potencializar um trabalho de qualidade, na parceria com os demais
educadores: o importante é que esse trabalho não seja artificial, isolado do
projeto pedagógico como um todo.
Por fim, dois lembretes: 1) todas essas atividades
e preocupações, desde os embalos para ninar até a verificação do trabalho
musical da escola são da responsabilidade de mães e pais, sem exceção; 2) não
descuide do repertório. Isso pode parecer difícil, mas tente utilizar a mesma tática
da boa alimentação: um fast food, de vez em quando, não faz mal a
ninguém, desde que a nutrição básica seja feita por meio de uma dieta
balanceada, rica em verduras, frutas, cereais e proteínas. Da mesma forma, os
malefícios de se ouvir música descartável na TV podem ser minimizados se, em
casa, você “nutrir” os ouvidos e cérebros de seus filhos com música rica,
estimulante e de boa qualidade.
Monique Andries Nogueira é Doutora em
Educação pela Universidade de São Paulo – USP. Profª. Adjunta da Faculdade de
Educação da UFG.
Fonte:
A IMPORTÂNCIA DA
MÚSICA NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS
A música
é um dos principais meios de comunicação existentes na sociedade. Através dela
é possível transmitir não só palavras, mas sentimentos e ideias que podem
ganhar grandes proporções didáticas, quando bem direcionadas.
“Primeiramente, devemos educar a alma através
da música e a seguir o corpo através da ginástica” disse Platão.
Segundo ele, a ginástica é dança e luta. A luta para
conquistar saúde e vigor e a dança para alcançar a nobreza e liberdade. A
ginástica com a função de desenvolver a valentia e não a robustez do atleta, e
a música para ajudar a não se praticar nada de mal, além de contribuir para
desenvolver ritmo e harmonia.
Assim sendo, a finalidade da educação musical
é “infundir no educando um espírito de ordem e desenvolver o
verdadeiro amor à beleza.” Uma
sociedade em declínio é uma sociedade que abandonou a educação musical como
parte integrante do processo educativo.
De acordo a Platão, a música é feita de sons, que se
manifestam em movimentos ordenados. O bem específico da música é a capacidade
de introduzir ordem e beleza de forma perfeita nas ações e na vida. Ele define
a música como arte educadora por excelência que, penetrando na alma por meio
dos sons, inspira o gosto pelas virtudes. Por esta razão, na verdadeira
educação está presente a música. Ela não pode transmitir outra coisa se não as
virtudes. Na música estão contidos três elementos: as palavras, a harmonia e o
ritmo. Daí a importância da boa e verdadeira música. A música penetra
diretamente em nossos centros nervosos e ordena de maneira rápida e imediata a
divisão do tempo e do espaço.
“A música, tem o poder de acalmar e
disciplinar uma criança, portanto facilita a aprendizagem, seja ela formal ou
no âmbito familiar. Ela é um dos estímulos mais potentes para os circuitos do
cérebro, além de ajudar no raciocínio lógico matemático, contribui para a
compreensão da linguagem e para o desenvolvimento da comunicação. Atua nos dois
hemisférios do cérebro. O direito que é criativo e intuitivo e o esquerdo que é
lógico e sequencial” afirma Paulo Roberto
Suzuki – Musicoterapeuta.
Pesquisas realizadas com o intuito de provar a ação da
música nas células cerebrais, mostram que após meses de aula de piano e canto,
uma criança manifestou melhores resultados na reprodução de desenhos
geométricos, na percepção espacial e no jogo de quebra cabeças.
O processo de ensino que se baseia em uma
vivência musical direta e imediata, com manipulação e experimentação sonora, em
prática musical coletiva e em vivência corporal, estão em consonância com a
psicopedagogia de Vigótski.
“Não dá para falar de música, sem falar de
Mozart, o grande gênio da música”, diz Délia
Steinberg Guzman. Ele é um clássico por
excelência, somente nele as formas tomam vida e expressão, é o mais fantástico
conhecedor de regras, imaginação e sensibilidade. Seu estilo universal é
atemporal.”
A filósofa Maria Angeles Fernández, inspirada
em Apolo, deus da música nos diz: “nada, é mais agradável aos
ouvidos dos deuses, que estes maravilhosos sons vindos das cordas, extraídos do
vento, paridos dos ventres inchados de tambores e atabaques. O mundo se criou
com música, o homem tão pequeno, tão limitado frente a soberba grandeza de seu
contexto, aprendeu em seguida que os sons eram sua comunicação com Deus.”
Sabemos da importância de estabelecer regras para o
reconhecimento dos limites na educação da criança, e quem nos ensina isso é a
própria natureza, que nos mostra a todo instante a presença do ritmo, da
harmonia e do som. É certo que, a música nos traz elementos para estabelecer a
harmonia, porque é a própria harmonia.
Nenhuma criança permanece quieta enquanto
canta, bate palmas, bate os pés e dança, ou seja, os instrumentos naturais do
próprio corpo, em sua qualidade de gestos rítmicos primordiais, complementam a
expressão melódica do canto. Considerando que o movimento
para a criança é tão necessário quanto o repouso e a alimentação, mais um
motivo para considerar a música como elemento primordial em sua educação.
Ao trazer estes elementos para enriquecer e também
elucidar a nossa reflexão, meu objetivo não é outro se não colocar a música no
seu lugar de excelência na educação da criança e também chamar a atenção de
pais e educadores para fazer uso de uma linguagem musical na comunicação ao
educar, pois é a linguagem da alma, portanto, a linguagem adequada para
sintonizar com a alma de uma criança.
Crianças pertencem a um mundo puro, inocente e mágico,
onde a música está presente, portanto, não deve ser excluída do seu cotidiano,
pois sua natureza anímica, pede isso.
Considerando o que abordamos anteriormente, as palavras,
o ritmo e a harmonia são elementos componentes da música e não por acaso são
também elementos que compõem o universo infantil.
A música é a linguagem da alma e como tal ela poderá nos
ajudar a resgatar os verdadeiros valores tão ausentes no mundo de hoje, carente
dos reais valores humanos. Humanizar a educação é o maior desafio que
encontramos hoje nas escolas e nas famílias. Humanizar a educação, é fazer
valer estas três grandes virtudes: a bondade, a beleza e a justiça.
Quero com esta reflexão fazer um chamado a todos aqueles
que de alguma forma educam crianças ou mesmo só têm contato permanente com
elas, que façam uso desse grande recurso ao educar: a música. Ajudando-as a
preservar esta virtude que já é de sua natureza: a sensibilidade.
Muitas vezes os pais bem intencionados, buscam oferecer
aos filhos a melhor educação, colocando-os em aulas especiais diversas, além de
uma escola de educação infantil, com o intuito de ajudá-los em sua formação. E,
no entanto, na maioria das vezes não valorizam e por isso mesmo não estimulam a
educação musical, na educação dos filhos, por desconhecer o seu real valor.
Posso afirmar que a educação musical é completa, educa todos os aspectos do ser
humano.
Em uma educação onde se estimula mais o lado esquerdo do
cérebro, ou seja, o racional, a sensibilidade cede lugar ao endurecimento nas
relações, gerando pessoas mais distantes e frias, ou seja, com pouca ou nenhuma
sensibilidade. E a música é antídoto mais eficaz que podemos lançar mão contra
este mal.
Uma ação pedagógica eficaz é
cantar, ouvir boas músicas, ouvir músicas clássicas, ouvir sons da natureza
junto com os filhos.
Para cantar com a criança, não é necessário possuir
técnicas vocais, e sim deixar a voz sair do coração e passar pela garganta
carregada de emoção, e assim conduzi-la, nesse mundo mágico em que ela vive.
Cante com ela e os laços afetivos certamente serão fortalecidos, facilitando
assim o seu processo educativo.
http://www.vidamaterna.com/a-importancia-da-musica-na-educacao-das-criancas/
PROJETO BANDINHA RÍTMICA ENSINA CRIANÇAS A FAZER INSTRUMENTOS MUSICAIS
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