Todo o encanto da poesia
Lida ou cantada, a expressão poética cativa pelo
ritmo e pela sonoridade, despertando interesse das crianças
Por Erika Nakahata
Objetivos:
- Estimular a oralidade, o rítmo, a musicalidade e a expressão corporal;
- Expandir o contato com os gêneros textuais para além dos contos e narrativas.
Quem pensa que poesia é coisa de gente grande está redondamente
enganado. Poesia é, sim, também para os pequenos. E não há idade para começar:
quanto mais cedo, melhor. “A poesia pode fazer parte da vida da criança desde a
fase intrauterina, como ocorre com canções de ninar e depois cirandas —
estímulos de rimas e sons que levam o recém-nascido a fazer associações,
favorecendo as primeiras tentativas de expressão verbal. Ao ingressar na
Educação Infantil, inicia-se o ensino didático da poesia. Por um viés lúdico, a
criança tem acesso a diferentes gêneros textuais, indo além dos contos e
narrativas infantis”, diz Marcia Abicalaf, coordenadora pedagógica da Educação
Infantil do Colégio Dom Bosco, de Curitiba, PR. “Ao experienciar a vivência com
o texto poético, a criança tem a oportunidade de se relacionar com as palavras
imantadas pela arte e resgatadas dos usos mecânicos do dia a dia. Por isso, a
poesia é nutrição valiosa para a imaginação, o sonho, a fantasia. Suprimento
lúdico precioso para deleitar os pequenos leitores e criar uma memória poética
que os acompanhará por toda a vida”, ressalta a poetisa Eloí Elisabet Bocheco,
autora de 11 livros para crianças.
Como escolher o texto
O maior desafio, segundo Marcia, é usar ferramentas que não estejam
necessariamente ligadas à escrita formal. “Como as crianças ainda não estão
alfabetizadas, não há como se ater à leitura ou escrita de textos, o que não
pode ser empecilho para o professor”, analisa.
O segredo
é partir de poesias com estrutura e complexidade adequadas à faixa etária de
cada turma, para que despertem o interesse das crianças. “Para as menores, as
poesias na forma de pequenos versos e canções são as mais apreciadas, como ‘A
casa’, de Vinicius de Moraes”, exemplifica Maria de Fátima Pupo, diretora
pedagógica da Escola de Educação Infantil Girassol, de Jaú, SP. Ela conta que a
sonoridade da poesia possibilita brincadeiras com palavras e nomes que fazem
parte do repertório infantil, facilitando a compreensão do texto.
Para
enriquecer o trabalho, Marcia e Maria de Fátima citam recursos lúdicos como
teatro, música, fantoches, produções artísticas, vivências em grupo,
brincadeiras de roda e desafios com rimas, além da tecnologia, que permite a
associação de imagens multicoloridas à poesia declamada. “O resultado é um
estímulo à oralidade, ao ritmo, à musicalidade e à expressão corporal, além do
fortalecimento do vínculo adulto-criança”, diz Maria de Fátima.
No poema,
as palavras brilham, dançam, jogam, palpitam, cantam, pulam, incendeiam,
brincam. Brincar com palavras é uma experiência prazerosa que provoca
intimidade com a linguagem e desperta prazer de ler. A adesão das crianças é
imediata porque elas captam, no semblante do poema, a similaridade com o
universo infantil, que, em sua essência, é mágico, milagreiro, inventivo e
lúdico.
Eloí
Elisabet Bocheco,
professora, poetisa e autora de Pomar de Brinquedo (Larousse Júnior) e outros
dez livros
Pinto
Por Dri Foz
Se um pinguinho de tinta
Cair lá do céu
Eu logo transformo
Minha vontade em pincel
O que parece
Um rabisco
Pra mim
É um trem corisco
O que lembra
Um borrão
É uma borboleta de macacão
Se olhar melhor
Vai perceber
Meu traço Picasso
Meu gosto Van Gogh
Minhas cores Peticov
Meu olhar Aguilar
E se realmente
Quiser enxergar
Vai encontrar eu mesmo
Simplesmente a sonhar
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Troca de ideias e produção coletiva
Na Escola Girassol, a poesia é utilizada no projeto de adaptação no início do
ano letivo. Exemplo disso foi a atividade desenvolvida a partir de algumas
poesias do livro Vamos Pintar a Poesia, de Dri Foz (editora Talento), entre
elas “Pinto” – veja trecho ao lado. Após a leitura, fez-se uma roda de
conversa, na qual os alunos responderam a questões como: do que fala a poesia?
Pode cair tinta do céu? O que é um trem corisco? Quem já passeou de trem? De
quem são os nomes citados na poesia?
“Escrevemos os comentários em um painel, que foi exposto na classe, e desenvolvemos uma pintura coletiva, para que os alunos exercitassem a criatividade e se lambuzassem bastante”, conta Maria de Fátima. Eles receberam bexigas com tintas coloridas, que eram arremessadas em um papel panamá grande, formando borrões coloridos. Para finalizar, foi feita uma reflexão, e as crianças falaram sobre a obra produzida, as cores predominantes, as sensações que despertavam e as formas percebidas. Após a atividade, a obra passou a abrigar o nome dos aniversariantes da classe.
Propiciar
a vivência da poesia de modo lúdico é a oportunidade da escola de sensibilizar
seus educandos desde a mais tenra idade, uma vez que a poesia contém em si a
delicadeza, sutileza e docilidade que entram para o cotidiano infantil.
Promover a reflexão e suscitar questionamentos sobre o enfoque poético são os
primeiros passos para criar futuros leitores críticos. Brincar com poesia e
instigar sua invasão nos corredores da escola revelam-se ação apaixonante e
inovadora. Por isso, o professor deve embeber-se desse fascinante mundo,
estimulando a criança a interagir e entusiasmar-se com a poesia brasileira.
Marcia Abicalaf,
coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Dom Bosco
Concerto de primavera
Anualmente, o Colégio Dom Bosco promove, em setembro, o Concerto de Primavera,
em acolhida à nova estação. Para esse evento, os professores procuram trabalhar
grandes nomes do cenário artístico, como Cecília Meirelles, Paulo Leminski e
Villa-Lobos. “Villa-Lobos criou uma linguagem musical bem brasileira, que
incorporou canções folclóricas, indígenas e populares, inclusive infantis”,
destaca Marcia. O projeto inclui estudo de biografia, fatos e curiosidades da
época em que viveu o artista, e principalmente da arte que praticou, com o
objetivo de acrescentá-la ao universo infantil. “As crianças aprendem a declamar
poesia, tendo o desafio de aliar emoção, sentimento e gestos à palavra.
Dispensamos cuidados ao tom de voz, à expressão e postura corporal, e à
desenvoltura, aspectos que as crianças mostram posteriormente em apresentação
aos pais”, diz Marcia. Segundo a coordenadora pedagógica, não há pretensão de
tornar os alunos poetas, mas de sensibilizá-los para a arte, despertar neles o
desejo de conhecer o gênero poético, "brincar” de rimar e apropriar-se da
arte de compor. Entre as poesias trabalhadas, ela cita as seguintes de Cecília
Meirelles: “A bailarina”, “As meninas”, “Ou isto ou aquilo”, “Os carneirinhos”,
“Pescaria” e “O cavalinho branco”, além de haicais de Paulo Leminski. De
Villa-Lobos, “O trenzinho do caipira”, “A canoa virou”, “Nesta rua tem um bosque”,
“Cravo zangou-se com a rosa”, “Cai, cai balão” e “A bela morena”.
A leitura
do professor traz o poema para perto da criança, cria intimidade com as
palavras, auxilia na compreensão dos significados do texto, resgata a
entonação, os ritmos, a musicalidade, o humor e outros efeitos encantatórios,
latentes no texto poético. Nada substitui a leitura apaixonada do mestre. Nem a
mais sofisticada tecnologia.
Eloí Elisabet Bocheco
Dicas de leitura
★ Bichodário
De Telma Guimarães, com ilustrações de Sami e Bill (Larousse Júnior, 32
páginas)
★ ABC... até Z!
De Bartolomeu Campos de Queirós, com ilustrações de Júlia Bianchi (Larousse
Júnior, 64 páginas)
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A reportagem original encontra-se no link a seguir:
GRUPO 1º Bimestre:
DEISE DE PAULA JONES MARTINS – RA – 1310220
ELIETE RODRIGUES – RA – 1317200
MARCIA GOMES FERREIRA – RA - 1316479
MARIA DA SOLIDADE FREIRE DE SOUZA – RA- 1315883
PATRÍCIA MARIA DA SILVA ALVES – RA – 1318167
SILVIA REGINA DE PAULA SOARES JONES – RA
1310272